VELHICE – MEDITAR SOBRE O VÔO DAS ANDORINHAS
Falando à um velho sacerdote servidor do seu reino, Ramsés, faraó que reinou no Egito por mais de sessenta anos, pergunto-lhe por sua saúde. “....minhas pernas recusam-se. Os ouvidos estão tapados, os ossos doe-me...” ao que completou o faraó “mas o seu pensamento continua vivo como o vôo do falcão.....” Antes disto havia dito que suas maiores ambições era um dia habitar perto de um lago e “...meditar sobre o vôo das andorinhas”. *** Falar sobre a velhice é difícil para muitas pessoas. Quem a alcança é porque não morreu jovem. A vida começa a desaparecer no instante em que nascemos, pois não temos prazo de validade nem garantia do que vai acontecer no momento seguinte. Procuro ler e refletir sobre o assunto, mas percebo que a maioria só vê o tema pelo lado que considero negativo, enquanto eu por sorte talvez, tenha ouvido um velho e sábio medico dizer-me quando perguntei se não gostaria ter menos idade para usufruir toda a vitalidade verbal e comunicativa que tinha. Fez uma pausa propositalmente longa antes de responder: “ Ricardo, você tem 23 anos e não sabe se terá 24 um dia. Eu por minha vez tenho a certeza de já ter vivido 83 e não sei quantos ainda me restam”. Nunca esqueci o episódio e até hoje dele me lembro quando em alguns momentos “quando algo me doe fisicamente” fruto da idade que já alcancei. Tento de aproveitar a vida da melhor maneira que posso e sei, aceitando os inevitáveis e não ideais detalhes físicos. Invisto no intelectual tanto quanto posso, lendo, conversando, escrevendo, sonhando. Desafios me atraem e tento fazer com que me sejam proposto. Como nem sempre o são, “bicho carpinteiro” que sou estou sempre, para desespero dos que tem que conviver comigo, “inventando” algo. Gosto de ler, quando estou em capitais vejo tantos filmes quanto posso e me abasteço de livros que devoro em semanas. A criança interior que cultivo e trago sempre comigo vibra e pula de alegria pelas oportunidades que se oferecem. Procuro viver um dia após outro tirando todo prazer do acontecimento. Talvez um dia tenha paciência e sabedoria para “meditar sobre o vôo das andorinhas”. Encerro com Pablo Neruda dizendo:
"Morre lentamente quem não viaja,
quem não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo."
quem não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo."
RICARDO garopaba BLAUTH
Artes e Palavras
48 9922 5333
*** extraído do volume 3 da série Ramsés, pag 229.
3 comentários:
Ricardo, lindas palavras!
Salve Neruda e sua magistral sabedoria ao mesmo tempo doce e simples que nos toca no fundo da alma...
Te vi lá entre meus seguidores e caminhei no teu rastro...Encontrei aqui sensibilidade e poesia da melhor qualidade. Um grande abraço.
alo MAURO
alo SONIA
elogios e visitas sempre fazem bem
e VIVA NERUDA
RICARDO GAROPABA
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