sábado, 27 de fevereiro de 2010
TROPEADA
TROPEADA – RESGATE CULTURAL GAÚCHO
Meados de 1999. Desafiado a colocar em telas um resgate cultural, não hesitei. O que já estava transformado em projeto era uma oportunidade única em termos de logística, tempo e o resultado do que eu realizasse faria parte da Expointer dali a pouco tempo. Um desafio e tanto, o que só fez aumentar a vontade de realizá-lo.
Seriam dias e noites conduzindo uma ponta de gado especialmente selecionada, de um ponto a outro através de estradas de chão ainda existente ao sul da capital do estado do Rio Grande do Sul.
Como tropeiro chefe foi contratado o Tio Flor, profissional ainda na ativa em pontos remanescentes do estado. Os culatreiros, outros peões ainda na ativa. Os tocadores da tropa seria gente que ama a Cultura Gaúcha, todos nomes super conhecidos na mídia e que reservaram estes dias para mergulhar no projeto de “corpo inteiro”.
O ritmo da caminhada do gado é pela tropa determinado. Ao ponteiro cabe ir a frente como amadrinhador mostrando o caminho. Aos culatreiros acompanhar as reses retardatárias, naturalmente mais lentas, cabendo aos tocadores evitar que a tropa se espalhe pelas laterais.
Madrugada alta começa a rotina diária. Levantar dos pelegos, que serviu de cama, tomar os primeiros chimarrões, depois de confirmar se os últimos guardadores da noite fizeram bem suas tarefas já tendo o gado reunido para partida. O fogo reavivado esquenta mais para água do chimarrão e para o café que muitos não dispensam. Logo estão todos com cavalos encilhados, aguardando a saída antes mesmo do sol nascer, pra aproveitar “a fresca”.
Dali até ao meio dia, os cavalos a passo acompanhando a tropa. Oportunidade de contar e relembrar causos, contar piadas, quem sabe uma pequena troteada para se juntar à outro grupo. Vou com a equipe de apoio, ora a frente ora atrás, registrando cenas, deixando que o clima geral se insira completamente em meu modo de ver e pensar.
Meio dia. Parada programada em lugar em que o gado possa descansar e “aguar”. As cenas que se seguem rendem bom material para as telas e vários da turma de acompanham o projeto cuidam para que a tropa não se disperse. Alguns que foram a frente e preparam uma simples e saborosa refeição como sabem ser as que no meio da natureza saciam nossa fome.
O chão é o assento para descansar até a retomada da tarde. Durante ela a repetição da manhã em que aproveito para enxergar a tropa passando. Eu a registro por diversos ângulos. Ao cair da tarde fazendas pré avisadas recebem a todos , tropa e tropeiros para a noite e suas possibilidades. Logo ouve-se um violão, uma gaita ponto solta suas notas, um bombo leguero começa a marcar ritmo enquanto de gargantas entusiasmadas surgem canções conhecidas iniciando uma tertúlia campeira.
Assim passam os dias e noites que no final coloquei nas telas que ilustram a crônica. São da minha coleção particular, e por enquanto podem ser vistas no saguão externo do Porto Alegre Ritter Hotéis. Ficarão lá pelo tempo necessário para achar um local adequado para toda minha coleção de pinturas e painéis da Cultura Gaúcha.
RICARDO Garopaba BLAUTH
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2 comentários:
Que resultado mais bonito o dessas tres paixões: pintar, escrever e trotar.
abraços
Obrigado ANGELA
Realmente é realmente um privilégio como disses
abrs
RICARDO garopaba BLAUTH
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