NOSSOS BOLSOS

NOSSOS BOLSOS

Outro dia lendo Rubem Alves acabei me lembrando de um curitibano, Helio Leites que abandonou “a vida medíocre de bancário para abraçar a vida rica de artista de rua”, segundo suas próprias palavras. É maravilhoso ver como uma coisa puxa outra. Ouço um nome e lembro outro. Rubem Alves gosta de disser que tem muitos bolsos onde guarda palavras e outras coisas e Helio Leites criou um casaco só seu, cheio de bolsos onde guarda pequenas obras de arte feitas com caixa de fósforos e coisa do gênero. Tudo criação sua. Quando alguém o aborda e pergunta o porquê daquele casaco fantástico Helio diz “são bolsos de estórias, escolha uma”. A partir daí uma transformação acontece. Sua voz baixa e melodiosa nos obriga a se aproximar para ouvi-lo e captar toda magia do momento. Retirando-as dos bolsos ele as manuseia com habilidade contando uma história sobre o que estamos vendo. Acredito que todos nós fazemos o mesmo sem o saber. Rubem Alves metaforicamente tem os seus bolsos e a cada um dá um nome. Tenho os meus e a cada momento remexendo neles encontro idéias, pensamentos, que me remetem ao passado ou me enviam ao futuro. Em algum dos bolsos colocamos as “palavras” que nem sempre significam o que estamos pensando ou dizendo. Num destes bolsos guardo meus “quereres” e de tempos em tempos vou olhar e conferir quais são para verificar se estou no rumo em que quero seguir. Noutro viaja minha criança interior que moleque “viaja” com o rosto pendurado pra fora aproveitando cada instante e de tempos em tempos conversa comigo. Num bolso especial guardo “energias” que vou juntando para as horas em que o caminho se torna mais árduo. No final a soma de todos os bolsos é a nossa vida que terá mais sabor se aprender-mos a tirar de cada um que é preciso para contar uma boa história.

RICARDO garopaba BLAUTH